Visita a Assis - Íntegra

Assis: Discurso do Papa ao clero, vida consagrada e conselho pastoral

Assis: Discurso do Papa ao clero, vida consagrada e conselho pastoral
DISCURSO
Visita Pastoral a Assis
Encontro com o clero, pessoas de vida consagrada e membros dos conselhos pastorais da diocese
Catedral de São Rufino
Sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal e Liliane Borges

Queridos irmãos e irmãs da Comunidade Diocesana, boa tarde

Agradeço-vos pelo acolhimento, sacerdotes, religiosos e religiosas, leigos empenhados nos conselhos pastorais! Quão necessários são os conselhos pastorais, um bispo não pode guiar a igreja sem o conselho pastoral, um padre não pode… isso é fundamental. Estamos na Catedral! Aqui se conserva a fonte batismal onde São Francisco e Santa Clara foram batizados, que naquele tempo se encontrava na Igreja de Santa Maria. A memória do Batismo é importante! O Batismo é o nosso nascimento como filhos da Mãe Igreja. Eu gostaria de fazer uma pergunta: quem de vocês sabe o dia de seu Batismo? Poucos hein! Agora o dever de casa: mamãe e pai, quando fui batizado? Um só Espírito, um só Batismo, na variedade dos carismas e dos ministérios. Que grande dom ser Igreja, fazer parte do Povo de Deus! Na harmonia, na comunhão das diversidades, que é obra do Espírito Santo, porque o Espírito Santo “ipse harmonia est”!

O Bispo é protetor desta harmonia. O Bispo é protetor desta harmonia. Por isto o Papa Bento quis que a atividade pastoral nas Basílicas papais franciscanas fossem integrada naquela diocesana. Porque ele deve fazer a harmonia, é seu dever e vocação e ele tem um dom especial para fazê-lo. Estou contente que estejam caminhando bem neste caminho, em benefício de todos, colaborando juntos com serenidade e vos encorajo a continuar. A visita pastoral que se concluiu daqui a pouco e o Sínodo diocesano que vocês estão para celebrar são momentos fortes de crescimento para esta Igreja, que Deus abençoou de modo particular. A igreja cresce não para fazer proselitismo. A igreja cresce por atração. A atração que cada um de nós dá ao povo de Deus.

Agora, brevemente, gostaria de destacar alguns aspectos da vossa vida de comunidade. Não quero dizer coisas novas para vocês, mas confirmar vocês naquelas mais importantes, que caracterizam o vosso caminho diocesano.

1. A primeira coisa é escutar a Palavra de Deus. A Igreja é isto: a comunidade, disse o bispo, que escuta com fé e com amor o Senhor que fala. O plano pastoral que vocês estão vivendo insiste propriamente nesta dimensão fundamental. É a Palavra de Deus que suscita a fé, que a alimenta, que a regenera. É a Palavra que toca os corações, que os converte a Deus e à sua lógica que é assim diferente da nossa; é a Palavra que renova continuamente as nossas comunidades…

Penso que todos podemos melhorar um pouco neste aspecto: transformar todos mais ouvintes da Palavra de Deus, para ser menos ricos de nossas palavras e mais ricos das suas Palavras. Penso no sacerdote, que tem a tarefa de pregar. Como pode pregar se primeiro não abriu o seu coração, se não escutou, no silêncio, com o coração? Fará uma homilia longa, a qual não se entende nada! Isso é pra vocês, hein! Penso nos pais e mães, que são os primeiros educadores: como podem educar se a sua consciência não estiver iluminada pela Palavra de Deus, se o seu modo de pensar e de agir não for guiado pela palavra, um  exemplo a dar para os filhos? Isso é importante, porque papai e mamãe lamentam, mas se não fizeram o seu dever… E penso nos catequistas, em todos os educadores: se o seu coração não estiver aquecido pela Palavra, como podem aquecer os corações dos outros, das crianças, dos jovens, dos adultos? Não basta ler as Sagradas Escrituras, é necessário escutar Jesus que fala nelas, é Jesus que fala na Escritura, é necessário ser antenas que recebem, sintonizadas na Palavra de Deus, para ser antenas que transmitem! Recebe-se e se transmite. É o Espírito de Deus que torna vivas as Sagradas Escrituras, que as faz compreender em profundidade, em seu sentido verdadeiro e pleno! Perguntemo-nos, uma pergunta para o Sínodo: que lugar tem a Palavra de Deus na minha vida, na vida de cada dia? Estou sintonizado com Deus ou com tantas palavras da moda ou comigo mesmo? Uma pergunta para cada um fazer.

2. O segundo aspecto é aquele do caminhar. É uma das palavras que prefiro quando penso no cristão e na Igreja. Mas para vocês há um sentido particular: vocês estão entrando no Sínodo diocesano, e fazer “sínodo” quer dizer caminhar junto. Penso que esta seja verdadeiramente a experiência mais bela que vivemos: fazer parte de um povo em caminho na história, junto com o seu Senhor, que caminha em meio a nós! Não somos isolados, não caminhamos sozinhos, mas somos parte do único rebanho de Cristo, que caminha junto.

Aqui penso ainda em vocês padres, e deixem-me que eu me coloque também junto com vocês. O que há de mais belo, para nós, se não caminhar com o nosso povo? É belo. Eu penso nestes padres que conhecem o nome das pessoas de sua paróquia, que vão encontrá-las. Como um que me dizia “eu conheço o cão de cada família”, que bonito, hein!  Eu o repito: caminhar com o nosso povo, às vezes adiante, às vezes em meio e às vezes atrás: adiante, para guiar a comunidade; em meio, para encorajá-la e apoiá-la; atrás, para tê-la unida para que ninguém fique atrás e também para que o povo tenha sucesso em encontrar novas vias pelo caminho, tenha o “sensus fidei”. O que há de mais belo? No Sínodo devemos saber também o que o Espírito diz aos leigos, ao povo, a todos.

Mas a coisa mais importante é caminhar junto, colaborando, ajudando-se; pedir desculpas, reconhecer os próprios erros e pedir perdão, mas também aceitar as desculpas dos outros, perdoando-os – quão importante é isto! Às vezes penso nos matrimônios, que depois de tantos anos terminam. A gente não se entende, nos distanciamos, talvez não souberam pedir desculpas a tempo, não souberam perdoar a tempo. Eu sempre, aos recém-casados, dou esse conselho: briguem quanto quiserem, se for necessário joguem os pratos, mas nunca terminem o dia sem fazer as pazes. Nunca! Se no matrimônio se aprende a dizer “desculpe, eu estava cansado”…. e retomar a vida no outro dia, esse é o segredo…Caminhar unidos, sem saltar para a frente, sem nostalgia do passado. E enquanto se caminha, se fala, nós nos conhecemos, contamos uns com os outros, se cresce no ser família. Aqui perguntamo-nos: como caminhamos? Como caminha a nossa realidade diocesana? Caminha junto? E o que faço eu para que essa caminhe verdadeiramente junto? Eu não gostaria de entrar aqui sobre as fofocas, mas vocês sabem que elas sempre dividem.

3. Então, escutar, caminhar e o terceiro aspecto é aquele missionário: anunciar até as periferias. Também isto tomei de vocês, dos vossos projetos pastorais. O bispo falou recentemente. Mas quero destacá-lo, também porque é um elemento que vivi muito tempo quando estava em Buenos Aires: a importância de sair para ir ao encontro do outro, nas periferias, que são lugares, mas, sobretudos, pessoas, situações de vida. Especialmente no caso da diocese que eu tinha antes de Buenos Aires, uma periferia que me fazia mal era encontrar em famílias de classe média crianças que não sabiam fazer sinal da cruz! Pergunto se nessa diocese tem alguma criança…essas são verdadeiras periferias, onde Deus não está.

Quais são as vossas periferias? Procuremos pensar. Perguntemo-nos quais são as periferias desta Diocese. Certamente, em um primeiro sentido, são as zonas da Diocese que são suscetíveis de estar no limite, fora dos feixes de luz dos holofotes. Mas são também pessoas, realidades humanas de fato marginalizadas, desprezadas. São pessoas que talvez se encontram fisicamente próximas ao “centro”, mas espiritualmente estão distantes.

Não tenham medo de sair e ir ao encontro destas pessoas, destas situações. Não se deixem bloquear pelos preconceitos, hábitos, rigidez mental ou pastoral, do famoso “se faz sempre assim!”. Mas se pode ir às periferias somente se se leva a Palavra de Deus no coração e se caminha com a Igreja, como São Francisco. Caso contrário, levamos a nós mesmos, e não a Palavra de Deus e isto não é bom, não serve para ninguém! Não somos nós que salvamos o mundo: é o Senhor que o salva!

Então, queridos amigos, eu não dei a vocês receitas novas. Não o fiz e não acreditem em quem diz que eu o fiz. Não existem. Mas encontrei no caminho da vossa Igreja aspectos belos e importantes que vão fazê-los crescer e quero confirmar vocês nestes. Escutar a Palavra, caminhar junto em fraternidade, anunciar o Evangelho nas periferias! O Senhor vos abençõe, Nossa Senhora vos proteja e São Francisco vos ajude todos a viver a alegria de ser discípulos do Senhor!

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