Francisco conta, a jornal argentino, como é ser Papa

“Estar com o povo me faz bem”, diz o Papa em entrevista a jornal argentino sobre o “ser Papa”, sua rotina no Vaticano e o relacionamento com o povo

Da Redação, com Rádio Vaticano

Entrevista do Papa ao jornal argentino "La Voz del Pueblo" / Foto: Reprodução - Rádio Vaticano

Entrevista do Papa ao jornal argentino “La Voz del Pueblo” / Foto: Reprodução – Rádio Vaticano

Uma entrevista sobre vários assuntos, centralizada, sobretudo, no que significa “ser Papa”. Assim foi a entrevista que o Papa Francisco concedeu ao jornal argentino “La Voz del Pueblo” em sua residência no Vaticano, a Casa Santa Marta. O Santo Padre fala da sua relação com o povo, do seu amor pelos pobres, de como passa seus dias, suas esperanças e preocupações.

“Gostaria tanto de ir comer uma pizza”, brinca o Papa com o jornalista Juan Berretta, “sempre fui um ‘andador’ e isso é uma coisa da qual sinto falta”. O jornalista perguntou ao Papa porque ele sempre pede que as pessoas rezem por ele. “Porque preciso disso. Preciso que a oração do povo me apoie. É uma necessidade interior”.

A entrevista é marcada por relatos inéditos sobre a vida pessoal do Papa “vindo do fim do mundo”. Jorge Mario Bergoglio diz que nunca tinha pensado em ser eleito como Bispo de Roma. Mas ao mesmo tempo, ele explica que a vida de um religioso jesuíta muda conforme as necessidades e, quando foi escolhido Papa, confiou-se totalmente a Deus, com a oração do Rosário.

O Papa e o povo

Francisco também fala na entrevista sobre o seu relacionamento com o povo e, em particular, sobre o “magnetismo” que gera nas pessoas. “Não sei bem porque isso acontece”, diz o Papa, admitindo, porém, que é como se o povo compreendesse aquilo que ele quer dizer.

“Tento ser concreto e isso que vocês chamam de magnetismo certos cardeais dizem que tem a ver com o fato de que o povo me entende”. De resto, ele diz que estar com o povo faz bem para ele, é como se sua vida se misturasse com o povo. “Psicologicamente não posso viver sem isso”.

Ele conta quais são as coisas de que mais sente falta em relação aos seus anos na Argentina: andar pelo caminho e ir a uma pizzaria comer uma pizza. “Mas pode pedi-la e fazer com que a entreguem (a pizza) no Vaticano”, observou o jornalista. “Sim, mas não é a mesma coisa. O bom é ir lá. Eu sempre fui um caminhador. Quando cardeal, me encantava andar pelos caminhos”.

O Papa tem “sono pesado”

Entrando mais na rotina de Francisco, o jornalista pergunta se o Papa consegue dormir tranquilo apesar das tensões relacionadas ao seu papel. O Papa diz que tem um sono tão profundo que deita na cama e dorme, seis horas por dia.

“Normalmente às 21h vou para o quarto e leio até quase às 22h, quando meus olhos começam a lacrimejar apago a luz e durmo até às 4h, quando me levanto sozinho, é o meu relógio biológico”.

Porém, Francisco não dispensa a “siesta”, ou seja, um pequeno repouso durante o dia. “Preciso dormir de 40 minutos a uma hora, tiro os sapatos e vou pra cama”, conta o Papa.

O choro do Papa pelos “dramas da humanidade”

Várias vezes em discursos e homilias o Papa falou da importância de saber chorar. Na entrevista, ele afirma que já chorou pensando nos “dramas humanos” e cita em particular o que está acontecendo em geral com as crianças doentes. “Quando vejo essas criaturas, pergunto ao Senhor: por que com elas e não comigo?”.

Francisco também relata que se comove quando visita presídios porque pensa que ninguém pode estar seguro de que nunca cometerá um crime e acabará em uma prisão. Ele se pergunta o porquê daquelas pessoas presas não terem tido a oportunidade que ele teve de não fazer algo que o levasse para a prisão. E essa reflexão o leva a um choro interior.

Mas o Papa diz que não chora em público; algumas vezes esteve no limite de chorar, mas parou em tempo, quando recordava as perseguições aos cristãos no Iraque e a situação das crianças. “Por que não quer ser visto chorando?”, pergunta o jornalista, e o Papa responde: “Não sei, me parece que deva seguir adiante”.

A imprensa

Sobre as “pressões” ligadas ao seu ministério, o Papa diz que o que o cansa no momento é a intensidade do trabalho. Ele diz que está tendo muito trabalho, a chamada síndrome do fim do ano escolar, em junho. Segundo ele, juntam-se mil coisas e problemas, com aquilo que a pessoa disse e também com o que ela não disse. “Os meios de comunicação às vezes pegam uma palavra e depois a descontextualizam”.

Papa dos pobres?

Perguntado se se sente feliz por ser definido como o Papa dos pobres, Francisco responde que a pobreza está no centro do Evangelho.

O Santo Padre afirma que os piores males do mundo de hoje são a pobreza, a corrupção e o tráfico de pessoas. Ele considera que erradicar a pobreza pode ser considerado uma utopia, mas “as utopias nos levam adiante” e seria triste que um jovem não a tivesse.

Ao final da entrevista, o jornalista pergunta ao Papa como ele gostaria de ser lembrado e a resposta é simples, bem ao estilo de Francisco: “como uma pessoa que se empenhou em fazer o bem, não tenho outra pretensão”.

Evite nomes e testemunhos muito explícitos, pois o seu comentário pode ser visto por pessoas conhecidas.

↑ topo