Reflexão

Lições de um Conclave - Experiência de padre Roger Araújo

Apresentador do programa que acompanhou toda transição entre a renúncia de Bento XVI e a eleição do Papa Francisco partilha sua experiência e as lições de um Conclave

Padre Roger Araújo
Jornalista e membro da Comunidade Canção Nova

Lições de um ConclaveA Igreja foi agraciada por Deus no último dia 13 de março com a eleição do Papa Francisco para o trono de São Pedro. Até já corrijo minha afirmação, porque o cardeal Bergoglio, eleito por ampla maioria dos membros do Colégio Cardinalício não é afinado com estas expressões de realeza para aquele que é o Bispo de Roma e sucessor legítimo do apóstolo Pedro na condução da Igreja de Cristo. Eu tive a graça de acompanhar os dois últimos Conclaves e a responsabilidade de conduzir em cadeia de Rádio, TV e Internet  pelo Sistema Canção Nova de Comunicação e demais canais de comunicação que retransmitiram estes momentos históricos. Este último Conclave nos deixa grandes lições dos quais jamais quero me esquecer.

A renúncia de um Papa, fato inédito na história recente da Igreja, causou uma certa inquietação em todo mundo. Todos queriam entender o porquê daquela atitude do Papa Bento XVI. Coube a mim naquela manhã do dia 11 de Fevereiro deste ano interromper a programação do acampamento de Carnaval para comunicar através de nossa rede de comunicação a decisão do Papa. Entramos no ar sem muitas explicações para dar e contando apenas com o pequeno comunicado que o Papa havia lido a pouco para os cardeais reunidos em Roma num Consistório para definir a canonização de alguns santos.  As imagens que geramos do Vaticano mostravam a surpresa de todos naquela sala reunidos com o Papa e a mesma surpresa demonstrada por todos os cardeais, bispos e autoridades da Igreja que conversamos ao vivo por telefone durante o anúncio.  O tempo e a luz do Espírito Santo que guia a Igreja foram aos poucos ajudando a todos a compreender o gesto profético do Papa.

Com a renúncia, consumada no dia 28 de fevereiro último, restava agora aos eminentes cardeais escolherem quem iria ser o sucessor do agora Papa emérito Bento XVI. O Conclave do ano de 2005 que elegeu o Cardeal Joseph Ratzinger para suceder João Paulo II tinhas outros ingredientes. A morte e os funerais do Papa causou uma enorme comoção em todo mundo. De chefes de estados a pessoas simples João Paulo II tornava-se um patrimônio da Humanidade. Acompanhando momento a momento deste a morte do Papa até a conclusão do Conclave, parecia mais que do  natural  que o “braço direito”  de João Paulo seria também o seu sucessor. Quando o cardeal Ratzinger se apresentou para aquela enorme multidão na praça de São Pedro, a multidão vibrou como se dizendo “ esperávamos por você mesmo”.  A verdade é que haveria uma enorme surpresa se aparecesse outro nome. Bastou dois dias para o Colégio Cardinalício confirmasse seu nome.

A eleição do Papa Francisco foi envolta de incertezas e inquietações. Por razões diversas, a impressa internacional queria passar a certeza para todos, a convicção de que a Igreja vivia uma profunda crise e o que os cardeais estavam divididos. De previsões apocalípticas que anunciavam os dias finais da Igreja e da humanidade às mais diversas especulações sobre o estados crítico da Igreja, as previsões para um Conclave demorado era mais que inevitável.

A imprensa, os inquietos e parecia que a sociedade em geral vivia uma agonia enquanto não iniciasse o Conclave. As lições começaram por aí. Primeiro, os nossos prelados não se deixaram levar por nenhuma pressão externa ou interna. Alguns nem tiveram tamanha pressa de chegar a Roma. Eles buscaram um clima de serenidade e transparência entre eles para realizarem os trabalhos. Aqueles que não trabalhavam diretamente na Cúria Romana fizeram questão de entender o que ali se passava. Demoraram quase uma semana para decidir o início do Conclave.

Quando teve início, o Conclave no dia 12 de março, as apostas giravam em torno de dois atá no máximo quatro nomes. Da parte dos brasileiros a expectativa parecia ser maior ainda pela eleição de um Papa brasileiro. A impressa católica se sentiu “tentada” a responder as especulações em torno destes nomes. Nossa equipe de Jornalismo, queria mandar um repórter para entrevistar a família do Cardeal Odilo no Sul do Brasil. Eu mesmo pedi para não fazerem isto. Eu tinha uma firme convicção que seríamos todos surpreendidos. Mas, de onde vinha esta minha certeza?

Diante de toda pressão que estava da impressa sobre os cardeais para que dessem alguma entrevista, pouquíssimos deles se atreveram a falar naquele momento de pré-conclave. Porém, há dois dias do início do Conclave o arcebispo de Aparecida e presidente da CNBB, deu uma entrevista para a TV Canção Nova e disse uma frase que gravei, ruminei e entendi a chave daquela engrenagem. Ele disse textualmente quando perguntaram sobre a possibilidade de uma Papa brasileiro: “Tudo é possível, mas estejam preparados para surpresas”. Como eu conhecia Dom Damasceno de tantas entrevistas e sabia do peso de suas palavras e de sua importância naquele cenário. Afinal ele era presidente da CNBB, mais já foi secretário e presidente do CELAM.

Da minha parte restava saber qual seria a surpresa. Passei a noite estudando perfil dos cardeais e história dos últimos Conclaves. Eu fiz uma pesquisa sobre o último conclave e descobri por diversas fontes que o Cardeal Bergoglio foi segundo mais votado no Conclave anterior. Porém, como já haviam passado oito anos ele estava agora com 76 anos de idade, não me parecia que os cardeais iriam eleger alguém já com esta idade. Era esperar para ver!!

Confesso que fiquei nervoso e apreensivo quando eu vi aquela fumaça branca em apenas 24 horas de conclave. Ali não tive duvida que Dom Damasceno tinha toda razão. Os nossos cardeais não tiveram muita dificuldade para escolher um nome que pudesse responder a todas as inquietações e quebrar todas as especulações. Nas palavras do próprio recém-eleito Papa Francisco: “Os cardeais foram buscar no fim do mundo um bispo para Roma”.  E do fim do mundo Deus traz um servo para nos apontar caminhos de Esperança onde tudo poderia parecer sem rumo e sem direção.

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