Dia histórico

Papa fala no Congresso de liberdade, refugiados e igualdade de direitos

Francisco disse que uma grande nação deve defender a liberdade, promover plenos direitos para todos, lutar pela causa dos oprimidos e manter o diálogo

Luciane Marins
Da redação

Francisco é o primeiro Papa a discursar no Congresso dos Estados Unidos / Foto: Reprodução CTV

Francisco é o primeiro Papa a discursar no Congresso dos Estados Unidos / Foto: Reprodução CTV

O Papa Francisco foi protagonista nesta quinta-feira, 24 de um evento histórico: pela primeira vez um Pontífice discursou no Congresso dos Estados Unidos.

Francisco, que chegou ao Capitólio em um carro simples, como tem sido costume em suas viagens, apresentou-se como filho do continente americano e iniciou seu discurso falando sobre a missão do Congresso de salvaguardar e garantir a dignidade dos americanos na busca incansável e exigente do bem comum. “Que é o fim de toda a política”, destacou.

Em vários momentos do discurso, o Santo Padre foi aplaudido de pé pelos congressistas. As palavras de Francisco não foram dirigidas somente ao Congresso, mas a todo povo americano. Ele centrou seu discurso na figura de quatro personalidades do país: Abraham Lincoln, Martin Luther King, Dorothy Day e Thomas Merton, e ressaltou que eles foram capazes de construir um futuro melhor com trabalho duro e sacrifício pessoal.

“Deram forma a valores fundamentais, que permanecerão para sempre no espírito do povo americano. Um povo com este espírito pode atravessar muitas crises, tensões e conflitos, já que sempre conseguirá encontrar a força para ir avante e fazê-lo com dignidade. Estes homens e mulheres dão-nos uma possibilidade de ver e interpretar a realidade.”

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Abraham Lincoln

Sobre o presidente Abraham Lincoln, Francisco destacou o sonho da liberdade. Nesse aspecto, ele abordou a situação social e política do mundo atual, que considera “inquietante”.

O Pontífice destacou que o mundo tem se tornado cada vez mais um lugar de conflitos violentos, ódio e atrocidades, cometidos até mesmo em nome de Deus e da religião. E chamou atenção para o fundamentalismo não só religioso, mas de qualquer outro gênero.

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“Os desafios, que hoje enfrentamos, requerem uma renovação deste espírito de colaboração, que produziu tantas coisas boas na história dos Estados Unidos”, destaca Francisco / Foto: Reprodução CTV

A resposta sugerida pelo Papa é de esperança, cura, paz e justiça. Para a resolução das crises econômicas e geopolíticas de hoje ele pede coragem e inteligência.

“Os desafios, que hoje enfrentamos, requerem uma renovação deste espírito de colaboração, que produziu tantas coisas boas na história dos Estados Unidos. A complexidade, a gravidade e a urgência destes desafios exigem que ponhamos a render os nossos recursos e talentos e nos decidamos a apoiar-nos mutuamente, respeitando as diferenças e convicções de consciência.”

Martin Luther King

Sobre o pastor Martin Luther King, Francisco destacou o sonho de plenos direitos civis e políticos para os afroamericanos. Aqui ele abordou o tema dos imigrantes e refugiados.

O Papa recordou as milhões de pessoas que nos últimos séculos chegaram aos Estados Unidos perseguindo o sonho de construir um futuro em liberdade.

“Nós, pessoas deste continente, não temos medo dos estrangeiros, porque outrora muitos de nós éramos estrangeiros. Digo-vos isto como filho de imigrantes, sabendo que também muitos de vós sois descendentes de imigrantes. Tragicamente, os direitos daqueles que estavam aqui, muito antes de nós, nem sempre foram respeitados.”

Francisco exortou que não se deve repetir os erros do passado. O Papa chamou a atenção para a proporção da crise dos refugiados, algo que não se via desde a II Guerra Mundial. Ele defendeu que esta proporção não deve assustar e insistiu que cada refugiado seja olhado como pessoa, apresentou ainda o que chamou de regra de ouro: “O que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles.”(Mt 7, 12).

“Esta norma aponta-nos uma direção clara. Tratemos os outros com a mesma paixão e compaixão com que desejamos ser tratados. Procuremos para os outros as mesmas possibilidades que buscamos para nós mesmos. Ajudemos os outros a crescer, como quereríamos ser ajudados nós mesmos. Em suma, se queremos segurança, demos segurança; se queremos vida, demos vida; se queremos oportunidades, providenciemos oportunidades.”

Nesse contexto, Francisco reforçou ainda um apelo pela abolição da pena de morte.

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“Nós, pessoas deste continente, não temos medo dos estrangeiros, porque outrora muitos de nós éramos estrangeiros”, afirmou o Papa, lembrando que também é filho de imigrantes / Foto: Reprodução CTV

Dorothy Day

Sobre a serva de Deus, Dorothy Day, o Papa destacou o sonho da justiça social e os direitos das pessoas. Aqui ele abordou o tema da pobreza.

Para uma economia moderna, inclusiva e sustentável, Francisco citou a criação e distribuição de riqueza, a utilização correta dos recursos naturais e a aplicação apropriada da tecnologia além da capacidade de orientar o espírito empresarial.

Francisco recordou o tema central de sua encíclica Laudato si que é o cuidado com a casa comum. “Na encíclica Laudato si’, exorto a um esforço corajoso e responsável para «mudar de rumo» (ibid., 61) e evitar os efeitos mais sérios da degradação ambiental causada pela atividade humana. Estou convencido de que podemos fazer a diferença e não tenho dúvida alguma de que os Estados Unidos – e este Congresso – têm um papel importante a desempenhar. Agora é o momento de empreender ações corajosas e estratégias tendentes a implementar uma «cultura do cuidado» (ibid., 231) e «uma abordagem integral para combater a pobreza, devolver a dignidade aos excluídos e, simultaneamente, cuidar da natureza» (ibid., 139).”

Thomas Merton

Sobre o monge cisterciense Thomas Merton o Papa destacou a capacidade de diálogo e abertura a Deus. “Ele continua a ser uma fonte de inspiração espiritual e um guia para muitas pessoas”, destacou.

Aqui o Papa recordou a aproximação dos Estados Unidos e Cuba. “Nesta perspectiva de diálogo, gostaria de saudar os esforços que se fizeram nos últimos meses para procurar superar as diferenças históricas ligadas a episódios dolorosos do passado. É meu dever construir pontes e ajudar, por todos os modos possíveis, cada homem e cada mulher a fazerem o mesmo. Quando nações que estiveram em desavença retomam o caminho do diálogo – um diálogo que poderá ter sido interrompido pelas mais válidas razões –, abrem-se novas oportunidades para todos.”

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No Congresso, Francisco fez um apelo pela abolição da pena de morte e fim do comércio de armas / Foto: Reprodução CTV

Nesse contexto Francisco fez uma forte exortação sobre o conflito armado. Para ele, estar ao serviço do diálogo e da paz significa também estar comprometido a por fim ao conflito armado.

“Aqui devemos interrogar-nos: Por que motivo se vendem armas letais àqueles que têm em mente infligir sofrimentos inexprimíveis a indivíduos e sociedade? Infelizmente a resposta, como todos sabemos, é apenas esta: por dinheiro; dinheiro que está impregnado de sangue, e muitas vezes sangue inocente. Perante este silêncio vergonhoso e culpável, é nosso dever enfrentar o problema e deter o comércio de armas.”

Conclusão

O Papa manifestou seu desejo de que o tema da família seja recorrente a toda sua visita. Ele demonstrou sua preocupação diante das ameaças pelas quais ela passa, sejam internas ou externas.

“As relações fundamentais foram postas em discussão, bem como o próprio fundamento do matrimônio e da família. Posso apenas repropor a importância e sobretudo a riqueza e a beleza da vida familiar.”

Para concluir Francisco disse que uma nação pode ser considerada grande, quando defende a liberdade, como fez Lincoln; quando promove uma cultura que permita às pessoas sonhar com plenos direitos para todos os seus irmãos e irmãs, como procurou fazer Martin Luther King; quando luta pela justiça e pela causa dos oprimidos, como fez Dorothy Day com o seu trabalho incansável, fruto duma fé que se torna diálogo e semeia paz no estilo contemplativo de Thomas Merton.

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