Papa inicia hoje viagem a Geórgia e Azerbaijão

Doutor em Relações Internacionais comenta características da região e simbolismo dessa visita do Papa ao Cáucaso

Jéssica Marçal
Da Redação 

O Papa Francisco iniciou nesta sexta-feira, 30, uma viagem a Geórgia e Azerbaijão, países da região do Cáucaso, uma das mais pobres da Eurásia. Ambos os países carregam uma forte herança soviética que perpassa muitas estruturas institucionais, explica o doutor em Relações Internacionais, Flávio Lira.

Geograficamente localizados na “periferia da Europa”, Geórgia e Azerbaijão fizeram parte da União Soviética, o que influencia bastante a estrutura de seus governos. Os países também são marcados por um histórico de conflitos, a exemplo da guerra civil no início dos anos 90 (conflitos inter-étnicos e intra-nacionais) da chamada guerra Russo-Georgiana, ou Guerra dos Cinco dias, em 2008. Segundo Flávio, tais conflitos não podem ser desconsiderados.

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“Em especial no tocante à invasão russa de 2008, boa parte da elite georgiana que tem laços mais fortes com o Ocidente se sente ameaçada por Moscou e por suas pretensões geopolíticas, as quais muitas vezes envolvem o Cáucaso. A Geórgia não sofreu grande destruição nesse último conflito, mas o susto foi grande, pois a Rússia mostrou (à Geórgia e ao mundo) que ainda podia intervir na região do Cáucaso se quisesse. Já o primeiro conflito, no início dos anos 1990, foi mais pesado e levou à perda do controle da Geórgia sobre as regiões da Abkhazia e da Ossétia do Sul, o que faz com que, até hoje, o governo central não tenha controle sobre boa parte do território do país”.

Religião

Além da mensagem de paz e reconciliação, o caráter ecumênico e inter-religioso deve marcar a visita de Francisco a esses dois países. Os cristãos ortodoxos e os muçulmanos são maioria na Geórgia e Azerbaijão. A cada 100 habitantes geórgios, apenas 2,5 são católicos; no Azerbaijão, esse número cai para 0,01. Na Geórgia, há 32 paróquias, ao passo que no Azerbaijão existe apenas uma.

Preocupado em promover o diálogo e o respeito em meio a essas diferenças, Francisco terá um encontro com o Patriarca de toda a Geórgia, Sua Beatitude Elias II. No Azerbaijão, vai se encontrar com o xeque dos muçulmanos do Cáucaso e participar de um encontro inter-religioso com representantes de outras comunidades religiosas do país.

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Flávio diz que as diferenças religiosas influenciam os conflitos na região do Cáucaso, mas dificilmente são a causa maior dos problemas. O que acontece, segundo ele, é que questões político-econômicas atingem parte da população e esta, ao se sentir desprezada, passa a enxergar na religião alheia um problema que origina ou piora sua situação.

“Trocando em miúdos, embora haja, já há séculos, dificuldades de relação entre algumas etnias e religiões, elas tendem a se exacerbar em tempos de dificuldades econômicas e políticas, e a diminuir quando os países se encontram em crescimento e em desenvolvimento”.

A visita de Francisco

Uma das maiores expectativas em torno da visita de Francisco é com relação à mensagem de paz, já que a região tem um histórico de conflitos e até hoje é afetada por essa herança.

Para Flávio, essa é uma viagem muito simbólica, principalmente quando se considera a pouca relevância dada à região em termos geopolíticos. Nesse sentido, ele acredita que o fato da Santa Sé integrá-la em seu roteiro pode significar uma aproximação com países mutliculturais, multirreligiosos e, acima de tudo, pouco católicos.

“O discurso do Papa quando da visita a esses países deverá ressaltar a paz em uma região assolada por guerras e, idealmemte, seria interessante que cutucasse as potências ocidentais e as do leste por sua relação instrumentalista e interesseira com o Cáucaso. De todos os modos, o simbolismo de sua visita também se liga à integração europeia de uma região frequentemente esquecida em uma encruzilhada de povos e que sempre foi de fundamental importância para o desenvolvimento das ideias e dos costumes europeus e asiáticos desde tempos imemoriais”.

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