Primeiro ano de Francisco: o diálogo com as religiões

“O diálogo inter-religioso é uma condição necessária para a paz no mundo e, por conseguinte, é um dever para os cristãos”, diz Francisco na Evangelii Gaudium

Luciane Marins
Da Redação

comite_judaico

Papa Francisco e membros do Comitê Judaico Americano

Nesta quinta-feira, 13, o Papa Francisco completa um ano de Pontificado. Entre as menções recorrentes ao longo desses 365 dias, esteve o diálogo inter-religioso.

“A Igreja católica é consciente do valor que reveste a promoção da amizade e do respeito entre homens e mulheres de diversas tradições religiosas”.

A afirmação, feita pelo Papa Francisco ao receber representantes de outras religiões em março do ano passado e repetida aos membros do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso em novembro, demonstra a atenção que Francisco dá ao diálogo inter-religioso.

Acesse
.: Todas as matérias especiais do primeiro ano de pontificado do Papa Francisco

O Papa destaca que esse diálogo torna-se ainda mais importante nos dias atuais, seja porque o mundo tornou-se “menor” seja porque as migrações aumentam os contatos entre pessoas e comunidades de tradição, cultura e religião diferentes.

Para o presidente da Comissão Episcopal para o Ecumenismo da CNBB, Dom Francisco Biasin, a contribuição que o Papa Francisco tem dado para o diálogo inter-religioso nesse primeiro ano de pontificado é uma continuidade daquilo que ele vivia e realizava quando era arcebispo de Buenos Aires. Ele cita por exemplo, a amizade com o rabino Abraham Skorka, com o qual chegou a escrever um livro (Sobre o Céu e a Terra) e a amizade com os muçulmanos, com os quais tinha um relacionamento de amizade, respeito e diálogo.

“Como Papa, ele continua na mesma linha, caminho. E como a característica do Papa Francisco é a abertura, a ternura, o acolhimento, o abraço, a carícia, é claro que ele dá um tom de maior afetividade a tudo aquilo que realiza. Isso cativa,” observa.

Dom Biasin

Dom Francisco Biasin, Bispo de Barra do Piraí (RJ) / Foto:CNBB

Dom Biasin recorda que na Exortação Evangelii Gaudium o Papa diz que todos os homens são peregrinos, que caminham juntos e por isso, devem abrir o coração para o companheiro de estrada.

“E o Papa se sente companheiro de estrada. Esse sentir-se homem da estrada, pessoa que caminha junto com os outros homens de várias outras fés religiosas, ajuda o Papa a realmente fazer-se, sentir-se e a fazer os outros sentir-se companheiros de viagem”.

O diálogo é fundamental nesse caminho, enfatiza o Bispo. Ele explica que o diálogo respeita as diferenças e que não é sincretismo. “É um dom que não renuncia a identidade, mas dá o que é próprio da minha identidade cristã, católica sem apego, sem fazer dessa identidade uma barreira para acolher o que o outro caminho religioso tem de positivo”.

No discurso aos membros do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, o Papa destaca que o diálogo não significa desistir da própria identidade quando se vai ao encontro do outro, e nem mesmo ceder a compromissos com a fé e a moral cristã. “Pelo contrário, ‘a verdadeira abertura implica manter-se firme em suas próprias convicções mais profundas, com uma identidade clara e alegre'(ibid., 251) e, por isso, aberta a compreender as razões dos outros, capaz de relações humanas respeitosas, convictas que o encontro com quem é diferente de nós, pode ser uma oportunidade de crescimento na fraternidade, enriquecimento e testemunho”.

E para Dom Biasin, a necessidade deste diálogo está no dia a dia das pessoas seja nas famílias, escolas ou trabalhos. Ele recorda, por exemplo, uma comunidade islâmica no Paraná, entre Foz do Iguaçu, Paraguai e Argentina.

“Sem dúvida começam a surgir nas universidades nas escolas, paqueras entre meninos e meninas que são de diversas religiões. É lá que acontece o ecumenismo na base. Quando duas pessoas se encontram, se confrontam, procuram se amar além das diferenças, se respeitam no seu caminho de fé”.

Fundamentalismo

Uma grande dificuldade para o diálogo entre as religiões é quando há fundamentalismo. O Bispo explica que que quando a religião se torna motivo de guerra ou briga, se trai aquilo que é essencial da fé: o amor.

Na Evangelii Gaudium, o Papa Francisco exorta que, apesar dos obstáculos e fundamentalismos de ambos os lados, uma atitude de abertura, na verdade e no amor, deve caracterizar o diálogo entre as pessoas de diferentes religiões.

“Este diálogo inter-religioso é uma condição necessária para a paz no mundo e, por conseguinte, é um dever para os cristãos e também para outras comunidades religiosas. Este diálogo é, em primeiro lugar, uma conversa sobre a vida humana ou simplesmente – como propõem os Bispos da Índia – «estar aberto a eles, compartilhando as suas alegrias e penas». Assim aprendemos a aceitar os outros, na sua maneira diferente de ser, de pensar e de se exprimir. Com este método, poderemos assumir juntos o dever de servir a justiça e a paz, que deverá tornar-se um critério básico de todo o intercâmbio”.

Evite nomes e testemunhos muito explícitos, pois o seu comentário pode ser visto por pessoas conhecidas.

↑ topo